segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Você entende o Hino Nacional Brasileiro?

 
O Hino Nacional Brasileiro, símbolo de exaltação à pátria, é uma canção bastante complexa. Além de possuir palavras pouco usuais, sua letra é rica em metáforas. O texto segue o estilo parnasiano, o que justifica a presença de linguagem rebuscada e de inversões sintáticas, que dificultam a compreensão da mensagem. Assim, a priorização da beleza da forma na elaboração do hino fez com que a clareza ficasse comprometida.

Você, que já sabe cantar o hino nacional, conhece-o pela melodia e musicalidade ou pelo sentido que a mensagem representa? A maioria das pessoas, apesar de ter domínio da letra, desconhece seu significado. Veja a seguir o hino nacional. Observe as palavras em destaque e suas definições em parênteses. É provável que você se surpreenda com as informações que sempre proclamou, sem, de fato, estar ciente disso.


Parte I

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas (calmas, tranquilas, serenas)
De um povo heroico o brado (grito, clamor) retumbante (que ressoa, ecoante)
E o sol da liberdade (independência), em raios fúlgidos (brilhantes, luminosos),
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor (direito) dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte (com nossa firmeza),
Em teu seio (interior, âmago), ó liberdade,
Desafia o nosso peito (coração) a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada (adorada, venerada, amada),
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido (brilhante, resplandecente)
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso (belo) céu, risonho (repleto de promessas) e límpido (claro),
A imagem do Cruzeiro (constelação Cruzeiro do Sul) resplandece (brilha).

Gigante pela própria natureza (desde que nasceste),
És belo, és forte, impávido (destemido) colosso (gigante)
E o teu futuro espelha (refletirá) essa grandeza.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil (generosa),
Pátria amada,
Brasil!

Parte II

Deitado eternamente em berço esplêndido (admirável, grandioso),
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras (cintilas, brilhas), ó Brasil, florão (ornato, enfeite) da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida (vistosa),
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores."

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro (bandeira) que ostentas (exibes) estrelado,
E diga o verde-louro (amarelo) dessa flâmula (bandeira)
- Paz no futuro e glória no passado.

Mas, se ergues da justiça a clava (arma) forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra, adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Letra: Joaquim Osório Duque Estrada / Música: Francisco Manuel da Silva

Saiba mais:
Sobre os autores
Joaquim Osório Duque Estrada nasceu em Pati do Alferes (RJ) em 1870 e faleceu em 1927, no Rio de Janeiro. Além de atuar como professor do Colégio D. Pedro II e da Escola Normal, foi poeta e crítico literário.
Francisco Manuel da Silva nasceu em 1795 no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1865. Dedicou-se à música desde a infância, fundando a Sociedade Beneficente Musical e o Conservatório de Música do Rio de Janeiro.

Estilo do texto
Trata-se de um texto parnasiano, que privilegia a forma mesmo com sacrifício da clareza da mensagem, gerando dificuldades de compreensão. Para isso, colaboram o preciosismo vocabular e as frequentes inversões da ordem do discurso, tão ao gosto dos acadêmicos do final do século XIX, mas distantes do universo das gerações atuais.

Parnasianismo e Romantismo
Sabe-se que a forma do poema é rigorosamente parnasiana, porém o seu conteúdo é romântico, inserindo-se nas propostas dessa escola literária no que se refere à exaltação ufanista.

Canção do Exílio
Na segunda parte do hino, os trechos que estão entre aspas foram extraídos do poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias.

300 anos sem hino
Desde o descobrimento, o Brasil demorou mais de 300 anos para ter um hino. Em 1831, Francisco Manuel da Silva compôs a melodia. A letra veio 91 anos mais tarde. Após várias opções não terem sido aprovadas pelos portugueses, em 1922, o presidente Epitácio Pessoa declarou o texto de Osório Duque Estrada como letra oficial do hino nacional brasileiro.

50 versos
A letra do hino nacional possui ao todo 50 versos, distribuídos em duas partes rigorosamente simétricas, tanto na métrica como no ritmo.

Versão Simplificada

Você sabia que existem diversas versões que tentam simplificar o hino nacional brasileiro, a fim de facilitar o entendimento da mensagem? Observe, por exemplo, a versão abaixo:

Nas margens tranquilas do riacho Ipiranga se ouviu
Um grito muito forte de um povo heroico,
E, nesse instante,
O sol da liberdade brilhou no céu do Brasil,
Com seus raios muito cintilantes.

Nós conseguimos conquistar, com muitas lutas,
A garantia de sermos iguais aos outros.
Ó Liberdade,
Desafiamos a própria morte
Quando estamos junto a ti.

Viva! Viva!
País amado e adorado.

Brasil, um sonho forte, como um raio muito luminoso,
De amor e de esperança desce à terra,
Se a imagem das estrelas do Cruzeiro do Sul,
Brilha em teu céu bonito, risonho e claro.

Pela sua própria natureza és um gigante,
Gigante corajoso, és belo, és forte,
E o teu futuro vai ser grande como tu.

Brasil, Pátria querida,
Entre tantas outras nações,
Tu és a mais adorada.

Brasil, Pátria amada,
És a mãe querida dos filhos
Que nasceram aqui!

Localizado para sempre em terras magníficas,
Banhado por um oceano e pela luz de um céu imenso,
Brilhas, Brasil, joia das Américas,
Iluminado com o sol deste Continente.

Teus campos, risonhos e lindos,
Têm mais flores do que a terra mais enfeitada.
Nossas florestas têm mais vida.
Nossa vida mais amores,
Quando estamos junto de ti.

Viva! Viva!
País amado e adorado.

Brasil, que a tua bandeira estrelada
Seja um símbolo de amor eterno!
E que o verde-amarelo desta bandeira diga:
"Nós temos glórias no passado e no futuro teremos paz".

Mas se levantares a arma forte da justiça,
Verás que um brasileiro não foge de uma luta!
E quem te adora não tem medo nem da morte.

Brasil, Pátria querida,
Entre tantas outras nações,
Tu és a mais adorada.

Brasil, Pátria amada,
És a mãe querida dos filhos
Que nasceram aqui!

(fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/curiosidades/hino.php)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A regreção da redassão

     Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.
     - Mas, minha senhora - desculpei-me -, eu não sou professor.
     - Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.
     - A culpa não é deles. A falha é do ensino.
     - Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem.
     - Obrigado - agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.
     - Não faz mal - insistiu -, o senhor vem e traz um revisor.
     - Não dá, minha senhora - tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças.
     - E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.
     Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: "Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever". No dia seguinte, ouvi de outro educador: "O estudante brasileiro não sabe escrever". Depois li no jornal as declarações de um diretor da faculdade: "O estudante brasileiro escreve muito mal". Impressionado, saí a procura de outros educadores. Todos me disseram: acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém mais faz diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes. Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca deárvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.
     - Quer dizer - disse a um amigo enquanto íamos pela rua - que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante emprego por mais dez anos.
     - Engano seu - disse ele. - A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.
     - Por quê? - espantei-me. - Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.
     - E você sabe por que essa geração não sabe escrever?
     - Sei lá - dei com os ombros -, vai ver que é porque não pega direito no lápis.
     - Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E quando o perder completamente, você vai escrever para quem?Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece hoje bilhete de loteria:
     - Por favor amigo, leia - disse, puxando um cidadão pelo paletó.
     - Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio.
     - E a senhorita não quer ler? - perguntei, acompanhando os passos de uma universitária.
     - A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.
     - O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.
     - E o senhor, não está interessado nuns textos?
     - É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?
     - E o senhor, vai? Leva três e paga um.
     - Deixa eu ver o tamanho - pediu ele.
     Assustou-se com o tamanho do texto:
     - O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas?
(Carlos Eduardo Novaes)