quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Filme "A Revolução dos Bichos"

Este é o link para assistir ao filme "A revolução dos bichos" no youtube.

http://www.youtube.com/watch?v=I5KI0b2H6ks

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A revolução dos bichos

Galera,
Aí vai o link para ler online ou baixar o livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell:

http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/animaisf.pdf

Boa leitura!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Paralímpíadas ou paraolimpíadas



 "Mudança no nome foi feita em novembro do ano passado. A ideia foi uniformizar nome usado nos outros países de língua portuguesa.
Até sua última edição, em 2008, as Paralimpíadas, jogos esportivos envolvendo pessoas com algum tipo de deficiência, eram chamadas no Brasil de Paraolimpíadas. No entanto, em novembro do ano passado, durante o lançamento da logomarca dos Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio, o nome dos jogos perdeu a letra “o” e passou a ser chamado de Paralimpíadas a pedido do Comitê Paralímpico Internacional.
 A intenção foi igualar o nome ao uso de todos os outros países de língua portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, onde já se usava o termo Paralimpíadas. Além disso, a palavra "olimpíadas" é referente à outra organização esportiva, o Comitê Olímpico Internacional.
 A palavra vem do inglês "paralympic", que mistura o início do termo "paraplegic" e com o final de "olympics" para designar o atleta paralímpico."

(Fonte: G1.globo.com VESTIBULAR E EDUCAÇÃO in http://www.facebook.com/aprendendoportugues)


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Um poema de João Cabral





QUESTÃO DE PONTUAÇÃO

João Cabral de Melo Neto

Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);

viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):

o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.

Sinais de pontuação



Como surgiram os principais sinais de pontuação?

Surgiram no início do Império Bizantino (330 a 1453). Mas sua função era diferente das atuais. O que hoje é o ponto final servia para separar uma palavra da outra. Os espaços brancos entre palavras só apareceram no século VII, na Europa. Foi quando o ponto passou a finalizar a frase. O ponto de interrogação é uma invenção italiana, do século XIV. O de exclamação surgiu no século XIV. Os gráficos italianos também inventaram a vírgula e o ponto-e-vírgula no século XV (este último era usado pelos antigos gregos, muito antes disso, como sinal de interrogação). Os dois pontos surgiram no século XVI. O mais tardio foi a aspa, que surgiu no século XVII.


(Revista Superinteressante, junho 2007)







A importância da pontuação


Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu assim: 
"Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres." 
Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava ele a fortuna? Eram quatro concorrentes.

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação: 
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito: 
Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele: 
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação: 
Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres. 


Moral da estória: Assim é a vida. Pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é quem colocamos os pontos e sendo justos ou não com quem compartilhamos, isso faz uma grande diferença.

Memórias literárias - texto vencedor da etapa escolar da OLP


O texto da Polyana Caçador, do 7º ano B venceu a etapa escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa. Vale a pena conferir. 
Parabéns, Polyana!

Do passado ao presente

Querendo saber mais do passado de onde moro, fiz uma simples entrevista com Dona Adelgisa que ficou contente e emocionada pelo fato de uma jovem estar interessada no seu passado, que na maioria das vezes incluía a cidade.
“Há décadas atrás vivíamos tranquilamente, a maior parte do povo morava no meio rural, incluindo minha família. Lembro-me bem dos fazendeiros influentes, dominavam a política; todos eram muito religiosos. Havia o Monsenhor Trajano, padre da igreja católica, ele tinha fama de ser severo, mas conduzia a igreja muito bem.
As moças da época, incluindo a mim, tinham uma maneira de vestir diferente de hoje em dia, era elegante e social, vestidos ou saias abaixo dos joelhos, todos rendados e bordados, uma graça! Os mocinhos sempre usavam calças tipo ‘pescador’ e camisas de algodão.
O que me lembro bem e sinto falta são das festas; e como lembro... O carnaval maravilhoso, os bailes nos clubes que disputavam entre si qual seria melhor, o Trombeteiros sempre ganhava. Quando carros alegóricos e foliões desfilavam, só víamos serpentinas e confetes. Era muito bom, uma maravilha! Tinha o bloco do Boi e o bloco do Dico (hoje a escola Caxangá); tinham também as festas juninas, eu sempre ia na do Mangueira, era a melhor! Todos dançando e festejando na maior alegria.
Eu amava a ferrovia, cuja estação era na atual Rodoviária, sempre com um intenso movimento causado pelo trem. E os grupos primários - como eram chamadas as escolas - promoviam gincanas, com brincadeiras e disputas, era tão bom... Eu sempre participava.  As comidas vinham da agricultura familiar da região, uma delícia.
Quando era menor sempre fui sabichona e tive curiosidades, amava perguntar sobre São João, uma das minhas histórias favoritas e que mais lembro é a do surgimento da própria, segundo meus familiares, tudo começou com um acordo entre dois grandes fazendeiros que demarcaram um lugar para construir uma igreja, a Matriz e assim a cidade foi crescendo ao entorno dela.
Lembro também dos trabalhadores de São João. Tinha a fábrica de tecidos Sarmento, fábrica de calçados Dragão, Silder, fábrica de Ferraduras e Vassouras, foram elas que trouxeram pessoas pra São João, oferecendo empregos; hoje, muitas delas fecharam e trabalhadores desapareceram.”
O que percebi é que mudanças aconteceram e o modo como evoluímos foi drástico e rápido. Logo no final agradeci Dona Adelgisa pelas informações que trouxeram grandes momentos e emoções do passado para o presente.

Entrevistada: Adelgisa Marli Ferreira, 54 anos.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Crônica vencedora da etapa escolar da OLP


Esta crônica é do aluno Iuri Cruz, do 9º ano C. Ela venceu a etapa escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa 2012.

Parabéns, Iuri!!!!





Chegadas e partidas


Era calmo naquela noite o movimento da Praça Barão do Rio Branco que fica próxima à rodoviária. O silêncio predominava, pois, à noite, o frio e a rua não são uma boa combinação nessa época do ano no lugar onde moro. Por isso a maioria das pessoas estava em casa. Fico a observar a rua em frente à praça, quando meu olhar se esbarra na rodoviária e percebo várias pessoas sentadas, que esperam por familiares que não viam já fazia tempo.

Fico observando-as por alguns segundos quando de repente, um barulho de motor se destaca em meio ao silêncio e vai chegando mais perto. Era um ônibus, que com ele trazia pessoas de um lugar distante onde a saudade e a tristeza predominavam. A cada metro andado pelo ônibus mais fortes eram as batidas dos corações de quem o esperava ansiosamente. De repente, o ônibus quase chegando ao seu tão esperado destino, começa a virar uma curva que precedia o encontro, que para quem ali aguardava por quem ama e não via há muito tempo era um obstáculo muito grande. Cada segundo que se passava era uma eternidade para quem esperava.

Quando o ônibus pára, olho pro banco da rodoviária e observo cada olhar, cada expressão de quem esperava ali sentado no banco e dos que já se levantaram, pois não conseguiram conter a felicidade ao ver que quem esperava há tanto tempo já estava pra chegar. A porta do ônibus se abre. Mais fortes ainda são as batidas dos corações. A primeira pessoa desce - um garoto de aproximadamente dezessete anos. Ele olha pra um lado e para o outro e acha quem já procurava fazia tempo e não conseguia encontrar, pois a distância o impedia. A cena mais provável e bonita acontece. Uma corrida, um abraço e um choro. Como deve ser bom reencontrar a sua mãe depois de meses sem vê-la.

Não consegui entender muito bem o que a mãe e o garoto conversavam, pois as falas foram abafadas pelo forte abraço de quem a saudade quase matou. Mais pessoas desceram do ônibus e todas receberam abraços calorosos, beijos, boas notícias e mais abraços de seus familiares, os namorados de suas namoradas e vice-versa. 
A humilde e pequena conclusão que cheguei depois de presenciar tais cenas foi de que em todas as rodoviárias, não só a de minha cidade mais em todas do mundo haverá pessoas como essas que esperam que a pessoa que ama volte e a pessoa que foi também sonha em voltar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Pleonasmo

Vamos aprender pleonasmo de maneira bem humorada.


segunda-feira, 9 de abril de 2012

quarta-feira, 28 de março de 2012

Anos 60 - links para pesquisa

Estes são alguns links que podem trazer informações enriquecedoras para o trabalho de redação sobre os anos 60.

ANOS 60:

http://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1960

http://revi-vendo.blogspot.com.br/

http://www.suapesquisa.com/musicacultura/anos_60.htm

http://musicasdosanos60.blogspot.com.br/

http://anos60.wordpress.com/

http://www.100anosdemusica.com.br/anos60.htm

http://www.mundodastribos.com/roupas-anos-60-fotos.html

http://www.paixaoeromance.com/60decada/001aber60/haber60.htm

http://www.coladaweb.com/cultura/decada-de-60


TEMAS DIVERSOS RELACIONADOS AOS ANOS 60:

O movimento hippie e o Flower Power:
http://www.spiner.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1262
http://pt.wikipedia.org/wiki/Flower_Power

Betles, Rolling Stones e Bob Dylan:
http://www.beatlemania.com.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Rolling_Stones
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bob_Dylan

O festival de Woodstock:
http://www.brasilescola.com/datacomemorativas/woodstock-maior-dos-festivais.htm
http://criticaprivada.wordpress.com/2011/03/30/registros-historicosfotos-do-festival-de-woodstock/

Movimentos musicais brasileiros:
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=cias_biografia&cd_verbete=638
http://www.almacarioca.com.br/mpb.htm
http://www.itaucultural.org.br/jovemguarda/
http://www.suapesquisa.com/musicacultura/tropicalismo.htm

O Cinema Novo, o Teatro de Arena e o Teatro Oficina:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinema_novo
http://www.brasilescola.com/historiab/cinema-novo.htm
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=cias_biografia&cd_verbete=657
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=cias_biografia&cd_verbete=658

Protestos nos EUA e no Brasil:
http://www.suapesquisa.com/historia/guerra_do_vietna.htm
http://whiplash.net/materias/biografias/099509-jimihendrix.html
http://musicaepoliticanaditadura.blogspot.com.br/

Movimentos estudantis:
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/movimento-estudantil-o-foco-da-resistencia-ao-regime-militar-no-brasil.jhtm
http://josekuller.wordpress.com/5-1968-e-o-movimento-estudantil/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Contracultura

Che Guevara
http://www.guevara.com.br/
http://www.lsr-cit.org/component/content/article/51-publicacoes/76-che-guevara-simbolo-de-luta
http://pt.wikipedia.org/wiki/Che_Guevara

Lendo crônicas

Faça a leitura de uma das crônicas abaixo e, após discutir com seu grupo de colegas, responda às seguintes perguntas através de cometários logo abaixo da crônica lida.

1- Que sentimentos ou emoções a crônica nos despertou?
2- A linguagem era atual?
3- Qual o assunto?
4- Qual a personagem ou personagens?
5- O autor fazia parte da situação narrada ou estava como observador, de fora?










Boa leitura!

Do rock


Carlos Heitor Cony

Tocam a campainha e há um estrondo em meus ouvidos. A empregada estava de folga, o remédio era atender o mau-caráter que me batia à porta àquela hora da manhã. Vejo o camarada do bigodinho com o embrulho largo e enfeitado.
— É aqui que mora a senhorita Regina Celi?
Digo que não e fulmino o importuno com um olhar cheio de ódio e sono, mas antes de fechar a porta sinto alguma coisa de íntimo naquele “senhorita Regina Celi”, sim, há uma Regina Celi em minha casa, minha própria filha, mas apenas de 12 anos, uma guria bochechuda ainda, não merecia o título e a função de senhorita.
Chamo o homem que já estava no elevador. Eram CDs, a garota encomendara um mundão de CDs numa loja próxima, e pedira que mandassem as novidades, pois as novidades estavam ali, embrulhadinhas e com a nota fiscal bem às claras.
Gemo surdamente na hora de assinar o cheque e recebo o embrulho. A garota dormia impune, o mundo podia desabar, e ninguém a despertaria do sono 12 anos. Deixo o embrulho em cima do som e volto para a cama, forçar o sono e a tranquilidade interior, abalada pelo cheque tão matutino e fora de propósito. Quando ordeno os pensamentos e ambições no estreito espaço do meu pensamento e retomo um sono e um sonho sem cor nem gosto, começa o rock.
Anos atrás, seria começa o beguine. Mas o beguine passou de moda, e o swing, o mambo, o baião e outras pragas vindas de alheias e próprias pragas. Pois aí estava o rock, matinal, cor de sangue e metal inundando o dia e o quarto com sua voz rouca, seu compasso monótono e histérico.
Purgo honestamente meus pecados e lembro o pai, que me aturava a mania pelos sambas de Ary Barroso. O velho não dizia nada, mas me olhava fundo e talvez tivesse ganas de me esganar. Mas me aturava e aturava o meu Brasil brasileiro.
Hoje, aturo o rock. Vou ao banheiro, lavo o rosto, visto um short e vou para a sala disposto a causar boa impressão à senhorita Regina Celi, que de babydoll, esbaforida, se degringola ao som de U2.
O tapete já fora arrastado e amarfanhado a um canto. Meu castiçal de prata foi profanado com a cara de um tipo até simpático que naquela manhã ganhará alguma coisa à custa do meu labor e cheque.
A senhorita Regina Celi tem a cara afogueada, os pés e as pernas avançam e ficam no mesmo lugar, o corpo todo treme e sua, até que ela me estende o braço.
— Vem, papai!
O peso dos meus invernos e minhas banhas causa breve hesitação. Mas ali estamos, eu e a senhorita Regina Celi, uma menina que ainda pego no colo e aqueço com meu amor e o meu carinho, quando ela tem medo do mundo ou de não saber os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas na hora do exame. Ela me chama e me perdoa.
Então, aumento o volume do som, espero o tal do U2 dar um grito histérico e medonho - e esqueço o cheque, a vida e a faina humana rebolando este cansado corpo-pasto de espantos - até que o fôlego e o U2 acabem na manhã e no som.

Crônicas para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

A arte de ser avó


Rachel de Queiroz

Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...
Quarenta anos, quarenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choros, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixados pelos arroubos juvenis.
[...]
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: “Vó!”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
[...]
Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho - involuntariamente! - bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesmo, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague...

Elenco de cronistas modernos. 21ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.


Quem tem medo de mortadela?


Mário Prata

Modismo é conosco mesmo. O brasileiro adora inventar moda. E todo mundo vai atrás dela. A última do brasileiro é “primeiro mundo”. Os publicitários nativos inventaram a expressão e agora tudo que nós queremos tem que ser coisa do “primeiro mundo”.
O carro é do primeiro mundo, a bebida é do primeiro mundo, a mulher é do primeiro mundo. Cineastas querem fazer filme de primeiro mundo, diretores de teatro trazem a moda lá da Europa. E os preços, evidentemente, também são de primeiro mundo.
Será que não nos bastam os exemplos de Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia, que se debruçaram na mamata da CEE e agora enfrentam uma séria recessão e desemprego?
Por que essa mania, de repente, de querer virar primeiro mundo? De terceiro para primeiro? Não seria o caso de fazer um estágio, antes, no segundo mundo?
Os do primeiro mundo adoram as coisas aqui do terceiro. Por exemplo, a caipirinha. Alemães, ingleses, americanos, suecos caem trôpegos pelas calçadas de Copacabana. Quer coisa rnais brasileira, mais terceiromundista, mais caipira e mais barata? Mas já estão avacalhando com ela. Agora já tem caipirinha de vodca e, pasmem, de rum. Caipirinha sempre foi e sempre será de cachaça. Coisa de caipira mesmo. E é esta bebida que os europeus vêm procurar aqui. Mas já meteram a vodca e o rum nela para ficar com cara de primeiro mundo. Vamos deixar a caipirinha caipira, brasileiros!
Toda essa introdução para chegar à mortadela. Ou mortandela, como preferem garçons e padeiros. Quer coisa mais brasileira que a mortadela? Claro que ela veio lá da Itália. Mas tornou-se, talvez pelo baixo preço, o petisco do brasileiro. O nome vem de murta, uma plantinha italiana que lhe valeu o nome. Infelizmente o brasileiro acha que mortadela é coisa de pobre, de faminto. E o que somos nós, cara-pálidas?
A cachaça e a mortadela são produtos do Brasil, do nosso querido terceiro mundo. Mas acontece que há um preconceito dos patrícios contra a cachaça e a mortadela. Contra a mortadela o caso é mais grave. Se você oferecer mortadela numa festa, vão te olhar feio. Você deve estar perto da falência.
Neste Natal e no Reveillon frequentei várias mesas, e em nenhuma havia mortadela. Queijos de primeiro mundo, vinho de primeiro mundo, perfumes de primeiro mundo, até um peru argentino eu comi. Mas mortadela que é bom, nada. Nem uma fatiazinha.
Quando o brasileiro irá assumir que a mortadela é a melhor entrada do mundo? Quando você for para a Europa, não adianta pedir dead her que não vai encontrar. Nem muerta dela.
Mas nem tudo está perdido. No dia 1° do ano almocei com o casal Annette e Tenório de Oliveira Lima, e lá estava a mortadela, fresquinha no prato rósea. Um limãozinho em cima, um pedacinho de pão e viva o terceiro mundo, visto lá de cima do apartamento do Morumbi.
No mesmo dia, de noite, fui ao peemedebista Bar Nabuco, debaixo de frondosas sibipirunas da Praça Vilaboim e estava lá, no cardápio, toda sem-vergonha, a mortadela brasileira. Achei que estava começando bem o ano. Vai ser um Ano Bom, como se dizia antigamente. Se os novos-ricos do PMDB estão comendo mortadela, nem tudo está perdido. No Gargalhada Bar mais para PT, há um excelente sanduíche de mortadela.
E, nas boas padarias do ramo você ainda encontra a verdadeira mortadela, aquela que chega no balcão, feita na chapa, sem queimar muito, servida em pãezinhos saídos do forno.
Vamos deixar o primeiro mundo para lá. Vamos, este ano, tomar cachaça e comer mortadela. É muito mais barato ser pobre. Deixemos que o primeiro mundo exploda entre eles, mesmo tomando uísque escocês e comendo queijo fedido.
Por favor senhores brasileiros primeiro-mundistas, vamos deixar de frescura. Mortadela é o que há. É um barato.
Feliz 94 para todos vocês. Muita cachaça e muita mortadela. Apesar de tudo, o primeiro mundo é triste e melancólico. Continuemos felizes e alegres com a nossa cachaça e a nossa gostosa mortadela.
E que os candidatos à presidência deste nosso país do terceiro mundo não se esqueçam que o Jânio sempre se elegeu comendo “mortandela” e não caviar do primeiro mundo.

Publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 5/1/1994.

Ser brotinho


Paulo Mendes Campos

Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.
Ser brotinho é não usar pintura alguma, às vezes, e ficar de cara lambida, os cabelos desarrumados como se ventasse forte, o corpo todo apagado dentro de um vestido tão de propósito sem graça, mas lançando fogo pelos olhos. Ser brotinho é lançar fogo pelos olhos.
É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É passar um dia todo descalça no apartamento da amiga comendo comida de lata e cortar o dedo. Ser brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. É dizer a palavra feia precisamente no instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente e superior. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância.
Ser brotinho é poder usar óculos enormes como se fosse uma decoração, um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que os coroas levam a sério, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. Aguardar na paciente geladeira o momento exato de ir à forra da falsa amiga. É ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotações criptográficas sobre o tributo da natureza feminina, uma cédula de dois cruzeiros com uma sentença hermética escrita a batom, toda uma biografia esparsa que pode ser atirada de súbito ao vento que passa. Ser brotinho é a inclinação do momento.
É telefonar muito, demais, revirando-se no chão como dançarina no deserto estendida no chão. É querer ser rapaz de vez em quando só para vaguear sozinha de madrugada pelas ruas da cidade. Achar muito bonito um homem muito feio; achar tão simpática uma senhora tão antipática. É fumar quase um maço de cigarros na sacada do apartamento, pensando coisas brancas, pretas, vermelhas, amarelas.
Ser brotinho é comparar o amigo do pai a um pincel de barba, e a gente vai ver está certo: o amigo do pai parece um pincel de barba. É sentir uma vontade doida de tomar banho de mar de noite e sem roupa, completamente. É ficar eufórica à vista de uma cascata. Falar inglês sem saber verbos irregulares. É ter comprado na feira um vestidinho gozado e bacanérrimo.
É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. É ter saído um dia com uma rosa vermelha na mão, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. É ir sempre ao cinema, mas com um jeito de quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-versa.
Ser brotinho é atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Ter estudado ballet e desistido, apesar de tantos telefonemas de Madame Saint-Quentin. Ter trazido para casa um gatinho magro que miava de fome e ter aberto uma lata de salmão para o coitado. Mas o bichinho comeu o salmão e morreu. É ficar pasmada no escuro da varanda sem contar para ninguém a miserável traição. Amanhecer chorando, anoitecer dançando. É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer apaixonada a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, ser brotinho é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tão amadurecida em todo o seu ser. É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial. É policiar parentes, amigos, mestres e mestras com um ar songamonga de quem nada vê, nada ouve, nada fala.
Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.
O cego de Ipanema. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960.

Conformados e realistas


Tostão

Fernando Calazans e poucos outros jornalistas esportivos têm sido críticos e realistas sobre a qualidade e o futuro do futebol brasileiro, da Seleção e dos clubes. Penso da mesma forma. Estamos preocupados. Já a numerosa turma do oba-oba, também chamada de otimista, acha que somos muito pessimistas.
Os conformados, os que têm pouco senso crítico e também os modernistas, que são muito bem preparados cientificamente, dizem que o futebol moderno é esse aí. Temos de engoli-lo. Tocar a bola e esperar o momento certo para tentar fazer o gol virou sinônimo de lentidão. Confundem modernidade com mediocridade.
Ninguém é tão ingênuo para achar que se deve jogar hoje no estilo dos anos 60. O que queremos é ver mais qualidade. Não podemos nos contentar com um futebol medíocre, quase só de jogadas aéreas e de muita falta e correria. O encanto do futebol é outro.
Os jogadores são produzidos em série, para exportação, como uma fábrica de parafusos. Os atletas de talento são colocados na mesma linha de produção dos medíocres. Há mercado para todos. Aumentou a quantidade e diminuiu a qualidade.
Nos últimos 14 anos, a Argentina ganhou cinco mundiais sub-20 (acontecem de dois em dois anos), além de duas medalhas de ouro nas Olimpíadas. O time que derrotou o Brasil tem sete jogadores da equipe campeã mundial sub-20 em 2005.
Muitos vão dizer, com um ótimo argumento, que nesse período, o Brasil ganhou duas copas do mundo e mais um vice, enquanto a Argentina não venceu nada. A razão disso é óbvia. A Argentina não teve um único fenômeno nesses 14 anos, até chegar Messi. Já o Brasil teve Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká. Todos os cinco ganharam o título de melhor do mundo.
Os fenômenos, em todos os esportes, dependem muito menos das condições em que são treinados. Eles não têm explicação. Mas não se pode depender tanto deles. É preciso criar boas estruturas e estratégias para formar um número maior de excelentes atletas. Esses têm diminuído no futebol brasileiro.
Muitos treinadores brasileiros conhecem tudo de esquema tático, de estatísticas, dos adversários, porém conhecem pouco as sutilezas e subjetividades. Não são bons observadores.
Quem não sabe ver não sabe nada. Eles se preocupam mais com seus esquemas táticos que com a qualidade do jogo e se os melhores jogadores estão nos lugares certos.
Há exceções. Enfim, apareceu um técnico brasileiro que colocou Carlos Alberto na posição certa, se movimentando na frente, por todos os lados, e mais perto do gol, onde pode e deve driblar. Assim ele jogou no Porto com José Mourinho. Carlos Alberto não é armador, organizador, como atuava.
Felipão estava louco para ver Robinho no Chelsea porque precisa de um atacante rápido, habilidoso, que joga melhor pelos lados e que é capaz de marcar no próprio campo e aparecer com facilidade no ataque. Robinho é um desses raros jogadores. Se Felipão fosse treinador da Seleção, certamente faria o mesmo.

O Povo Online, 30/8/2008. Disponível em .

A Rua do Ouvidor


Joaquim Manuel de Macedo

A Rua do Ouvidor contou diversas lojas de perfumarias, e, por consequência, devia ser a rua mais cheirosa, mais perfumada entre todas as da cidade do Rio de Janeiro.
E todavia não o era!...
Com efeito não havia nem há rua mais opulenta de aromas, de perfumes, de pastilhas odoríferas, de banhas e de pomadas de ótimo cheiro; mas tudo isso encerrado em vidrinhos, em frascos e em pequenas caixas bonitas que mantinham e mantêm a Rua do Ouvidor tão inodora como as outras de dia.
Atualmente de noite observa-se o mesmo fato.
Naquele tempo, porém, isto é, nos tempos do Demarais, e ainda depois, a Rua do Ouvidor, de fácil e reta comunicação com a praia, era uma das mais frequentadas pelos condutores dos repugnantes barris, das oito horas da noite até às dez.
A esses barris asquerosos o povo deu a denominação geralmente adotada de - tigres - pelo medo explicável que todos fugiam deles.
Esse ruim costume do passado me traz à memória informação falsa e ridícula que li, e caso infeliz e igualmente ridículo, de que fui testemunha ocular e nasal em 1839, no meu saudoso tempo de estudante.
A informação é a seguinte:
Um francês (viajante charlatão) passou pela cidade do Rio de Janeiro, e demorando-se nela alguns dias, ouviu dos patrícios da Rua do Ouvidor queixas dos incômodos tigres que frequentes passavam ali de noite. Sábio e consciencioso observador que era, o viajante tomou nota do ato, e poucos anos depois publicou, no seu livro de viagens, esta famosa notícia:
Na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, feras terríveis, os trigraves, vagam, durante a noite, pelas ruas, etc., etc.!!!
E é assim que escreve a história!
O caso que observei foi desastroso, mas de natureza que fez rir a todos.
Pouco depois das oito horas da noite, um inglês, trajando casaca preta e gravata branca...
Entre parêntese.
Em 1839 ainda era de uso ordinário e comum a casaca; o reinado de paletó começou depois; muitos estudantes iam às aulas de casacas, e não havia senador nem deputado que se apresentasse desacasacado nas respectivas Câmaras: o paletó tornou-se eminentemente parlamentar de 1845 em diante.
Fechou-se o parênteses.
O inglês de chapéu de patente, casaca preta e gravata branca subia pela Rua do Ouvidor, quando encontrou um negro que descia, levando à cabeça um tigre para despejá-lo no mar.
O pobre africano ainda a tempo recuou um passo, mas o inglês que não sabia recuar avançou outro; o condutor do tigre encostou-se à parede que lhe ficava à mão direita, e o inglês supondo-se desconsiderado por um negro que lhe dava passo à esquerda pronunciou a ameaçadora palavra goodemi, e sem mais tir-te nem guar-te honrou com um soco britânico a face do africano, que perdendo o equilíbrio pelo ataque e pela dor, deixou cair o tigre para diante e naturalmente de boca para baixo.
Ah! Que não sei de nojo como o conte!
O Tigre ou o barril abismou em seu bojo o chapéu e a cabeça e inundou com o seu conteúdo a casaca preta, o colete e as calças do inglês.
O negro fugiu acelerado, e a vítima de sua própria imprudência, conseguindo livrar-se do barril, que o encapelara, lançou-se a correr atrás do africano, sacudindo o chapéu em estado indizível, e bradando furioso:
— Pegue ladron! Pegue ladron!...
Mas qual - pega ladron! -: todos se arredavam de inocente e malcheiroso negro que fugia, e ainda mais o inglês, tornado tigre pela inundação que recebera.
Era geral o coro de risadas na Rua do Ouvidor.
O inglês, perdendo enfim de vista o africano, completou o caso com um remate pelo menos tão ridículo como o seu desastre. Voltando rua acima, parou em frente de numeroso grupo de gente que testemunhara a cena, e ria-se dela.
Ainda hoje o estou vendo; o inglês parou, e sempre a sacudir o chapéu olhou iroso para o grupo e disse mas disse com orgulhosa gravidade britânica:
— Amanhã faz queixa a ministro da Inglaterra, e há de ter indenização de chapéu e de casaca perdidas.
Ah! Eu creio que então a melhor das risadas que romperam foi a minha gostosa, longa e repetida risada de estudante feliz e alegrão.
É inútil dizer que não houve questão diplomática. A Inglaterra ainda não se tinha feito representar no Brasil por Mr. Christie, o único capaz (depois do jantar) de exigir indenização do chapéu e da casaca que o patrício perdera.
Não foi este único desastre que os tigres ocasionaram, foram muitos e todos mais ou menos grotescos, e sei de um outro (além da encapelação do inglês) ocorrido na Rua do Carmo hoje Sete de Setembro, que de súbito desfez as mais doces esperanças do casamento inspirado e desejado por mútuo amor.
O namorado era estudante, meu colega e amigo; estava perdidamente apaixonado por uma viúva, viuvinha de dezoito anos, e linda como os amores.
Uma noite, a bela senhora estava à janela, e à luz de fronteiro lampião viu o namorado que, aproveitando o ponto do mais vivo clarão iluminador, lhe mostrava, levando-o ao nariz, um raminho de lindas flores, que ia enviar-lhe, quando nesse momento o cego apaixonado esbarrou com um condutor de tigre, e, embora não encapelado, foi quase tão infeliz como o inglês.
O pior do caso foi que a jovem adorada incorreu no erro quase inevitável de desatar a rir, e logo depois de fugir da janela por causa do mau cheiro de que se encheu a rua.
O namorado ressentiu-se do rir impiedoso da sua esperançosa e querida noiva; amoroso, porém, como estava, dois dias depois tornou a passar diante das queridas janelas.
No erro; a formosa viúva, ao ver o estudante, saudou-o doce, ternamente, mas levou o lenço a boca para dissimular o riso lembrador de ridículo infortúnio.
O estudante deu então solene cavaco, e não apareceu mais à bela viuvinha.
Um tigre matou aquele amor.

Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro: Perseverança, 1878.




Glossário:
tigre: nome dado pelos moradores aos barris cheios de fezes que escravos carregavam à noite pela rua para jogar no mar - naquela época ainda não havia sistema de esgoto nas ruas

segunda-feira, 26 de março de 2012

Regra Ortográfica: Último ano para a velha escrita


Professores e alunos ainda trabalham as novas regras para assimilar as mudanças trazidas pelo acordo firmado entre os países de língua portuguesa

A partir de 1.º de janeiro de 2013, quem escrever “idéia”, “vôo” ou “mini-saia” estará oficialmente cometendo um erro de ortografia. No Brasil, o prazo de adaptação às novas regras trazidas pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa acaba neste ano e, embora apenas 0,5% do vocabulário usado pelos brasileiros tenha sido afetado, as mudanças ainda não foram completamente assimiladas por estudantes e professores.
O documento foi assinado em 1990 por Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo­­çambique e São Tomé e Prín­cipe, com adesão de Timor-Leste em 2004. Modificações posteriores e a falta de consenso entre os países adiaram a promulgação definitiva das mudanças em 17 anos. Quando a última versão do acordo foi finalmente aprovada, em 2008, o governo brasileiro estabeleceu o período de quatro anos para que a sociedade se habituasse à nova ortografia e todos os livros didáticos da rede pública de ensino fossem atualizados.
Escolas de todo o país trabalham as mudanças ortográficas desde a promulgação, mas a falta do hábito de consultar dicionários e outras fontes gramaticais parece ser uma das causas do pouco domínio das novas regras. “A maior dificuldade dos meus alunos está no uso do hífen. Isso só se aprende checando a forma certa a cada vez que surge a dúvida”, diz a professora de Produção de Texto do Colégio Acesso Suzelei Carvalho Rosales. Ela conta que ainda vê a grafia de algumas palavras com estranheza e precisa ser cuidadosa ao corrigir redações. “Eu sinto falta do trema e do acento circunflexo para diferenciar palavras. Alguns detalhes ainda não são naturais para mim.”
O professor Élio Antunes, do Curso Expoente, reforça a tese de que o grande vilão do acordo ortográfico é o uso do hífen. “Num ditado, a cada cinco palavras que digo, meus alunos erram três por não saber se vai ou não hífen”, conta. Segundo Antunes, é mais comum os vestibulandos optarem por escrever outras palavras que não precisem de hífen do que se empenhar em aprender a norma de uso.
O impacto da mudança tem mais efeito sobre alunos do 5.º ao 9.º ano do ensino fundamental. Alfabetizados com a ortografia antiga, eles tiveram de deixar para trás as normas que haviam aprendido há pouco tempo e aderir às novidades ainda no tempo escolar, usando alguns livros atualizados e outros com edições anteriores ao acordo.
Rede pública
De acordo com a prefeitura de Curitiba, professores, educadores e secretários que trabalham na rede municipal de ensino recebem capacitação específica para as novas regras ortográficas há três anos. “Em 2009, promovemos cursos com carga horária [total] de 12 horas sobre ortografia, todos os dias da semana, nos três períodos do dia”, conta Simone Müller, coordenadora de Língua Portuguesa no Depar­­tamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Edu­cação. Em 2010 e 2011, os cursos continuaram em menor frequência. Neste ano, nenhum encontro ocorreu, mas oportunidades de­­vem ser abertas no segundo se­­mestre.
Na rede estadual, a Secretaria de Estado da Educação informou que o tema é tratado em todos os encontros de formação para professores desde 2009 e que equipes para orientação metodológica são mantidas nos Núcleos Regionais de Educação.
Serviço
No site www.portugues.seed.pr.gov.br há uma seção específica sobre o acordo ortográfico, com as principais mudanças e ferramentas para trabalhar o assunto em sala de aula.
Visite-o, tire suas dúvidas e escreva corretamente!
Fonte: Gazeta do Povo

quarta-feira, 14 de março de 2012

Links interessantes

Aqui vão links para sites que podem ser úteis:



Para adequar-se ao novo acordo ortográfico:
http://www.ortografa.com.br/


Para conjugar verbos:
http://www.conjuga-me.net/


APROVEITEM AS DICAS!



quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulher


Dia Internacional da Mulher

Então é hoje?

E porque não ontem, ou amanhã?

A história diz que foi, ou é por isso:

“No dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.
A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.
Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas, somente em 1975, através de um decreto a data foi oficializada pela ONU”.

fonte: http://correiodolitoral.com/colunistas/cesar/4893-dia-internacional-da-mulher

Dia Internacional da Mulher e o trabalho feminino

Dia Internacional da Mulher e o trabalho feminino
A presença da mulher no mercado de trabalho tem se solidificado nas últimas décadas, fato que vem associado ao progresso tecnológico, à evolução da medicina, ao controle de natalidade e, principalmente, à luta das mulheres por sua igualdade e autonomia. Entretanto, mesmo com muitos avanços no sentido da igualdade entre os sexos, o machismo ainda predomina em nossa sociedade, mesmo que de forma sutil, inclusive no mercado de trabalho.

A desigualdade entre homens e mulheres no trabalho pode ser facilmente percebida com alguns recentes dados quantitativos. Pesquisa de 2011 do IBGE mostrou que mulheres ainda ganham 28% a menos que os homens, exercendo as mesmas funções.

Segundo dados IPEA de 2009, enquanto o índice de desemprego de homens brancos é de 5,3%, de mulheres negras é de 12,5%, o que demonstra a maior dificuldade da mulher no momento de conseguir emprego e de permanecer nele.

Origem dessa desigualdade é a denominada divisão sexual do trabalho, noção arraigada em nossa sociedade de que o papel do homem é de chefe de família e provedor da casa, cabendo a ele o trabalho produtivo, enquanto o papel da mulher é de cuidado dos filhos e idosos e da casa, portanto, trabalho reprodutivo.

Essa ideia de que é da natureza feminina a permanência no lar e a submissão ao homem, seja pai ou marido, permanece arraigada em nossas vidas em pleno século XXI. Exemplo extremado do pensamento patriarcal foram as recentes declarações do Cardeal português D. Manuel Monteiro de Castro, que teria afirmado que o desemprego em seu país se deve ao fato de a mulher estar ocupando o “espaço” do homem no trabalho, devendo ela aplicar-se em sua “função essencial” que seria a “educação dos filhos”.

Exemplos menos escancarados de discriminação entre os sexos no ambiente de trabalho são bastante comuns e presenciados por todos nós. Um bom exemplo é o fato de que a contratação de um homem é quase sempre relacionada a sua competência, enquanto a contratação de uma mulher é relacionada à sua beleza e seus atributos físicos. Outro exemplo ocorre em momentos de promoção e bônus, que se recebidos por um homem, são relacionados ao seu mérito e esforço, já se recebidos por uma mulher, fazem surgir boatos sobre seu envolvimento com superiores. Ademais, mulheres são cotidianamente alvo de cantadas e piadinhas, sendo também as maiores vítimas de assédio moral e sexual no trabalho.

Trabalhadoras de todas as idades, etnias, classe e em todos os tipos de cargo, seja no trabalho braçal ou intelectual, sofrem esse tipo de discriminação e opressão, simplesmente pelo fato de serem mulheres. Carregam ainda o fardo da dupla jornada, pois em sua grande maioria, mesmo trabalhando fora, continuam responsáveis pelo cuidado da casa e da família.


Felizmente, o Brasil nos últimos anos tem avançado bastante na busca pela igualdade efetiva entre homens e mulheres, principalmente no mercado de trabalho. Importante marco a ser citado é a recente aprovação do PL 130/2011 pela Comissão de Direitos Humanos do Senado, que prevê multa para as empresas que pagarem para as mulheres salário menor que o pago ao homem que realiza a mesma atividade. Mesmo já existindo no Direito Individual do Trabalho a figura da equiparação salarial, o PL representa a punição na coletividade da empresa que apresentar esse tipo de conduta discriminatória.

No caso específico da advocacia, a distinção entre homens e mulheres não é diferente.
Advogadas atuam em uma profissão considerada masculina, diretamente ligada ao terno e à gravata. Recebem, em geral, salários mais baixos que advogados com o mesmo tempo de profissão; são preteridas em face da contratação de homens; e sofrem com a “cultura” de que homens passam maior credibilidade, devendo demonstrar muito mais competência e trabalho para ganhar a confiança de um cliente.

Mesmo com as adversidades, as mulheres têm superado as barreiras machistas da advocacia. Hoje, o número de mulheres em cursos jurídicos já é superior ao de homens e o número de advogadas inscritas na OAB apresenta uma crescente, aproximando-se da paridade com os advogados do sexo masculino (em 2009, já quantificavam 44% dos inscritos na OAB).

Nesse contexto, este 08 de março, Dia Internacional da Mulher, deve ser comemorado em nosso país em face às várias conquistas das mulheres na busca por sua autonomia e reconhecimento no trabalho. Entretanto, muito ainda precisa ser feito para que nossa sociedade se veja livre do machismo e para que vivamos a igualdade efetiva entre os sexos.

FOLHADOSERTAO com Sônia Mascaro Nascimento (http://www.folhadosertao.com.br)