segunda-feira, 16 de março de 2009

Conto

O PRESENTE DOS MAGOS
(O. Henry)

Um dólar e oitenta e sete centavos. Era tudo. [...] Três vezes Della contou o dinheiro. Um dólar e oitenta e sete centavos. E no dia seguinte seria Natal.
Não havia evidentemente mais nada a fazer senão atirar-se ao pequeno sofá puído e chorar. Foi o que Della fez. [...]
Della terminou de chorar e cuidou do rosto com a esponja de pó. Postou-se junto à janela e ficou a contemplar melancolicamente um gato cinzento caminhando sobre uma cerca cinzenta num quintal cinzento. [...]
Subitamente, afastou-se da janela e postou-se diante de um espelho. Seus olhos estavam brilhantes mas sua face perdeu a cor ao cabo de vinte segundos. Num gesto rápido, soltou o cabelo e deixou desdobrar-se em toda a sua extensão.
Ora, os James Dillingham Youngs tinham dois haveres de que muito se orgulhavam. Um era o relógio de ouro de Jim, que pertencera a seu pai e a seu avô. O outro era o cabelo de Della. [...]
O cabelo de Della, pois, caiu-lhe pelas costas, ondulando e brilhando como uma cascata de águas castanhas. Chegava-lhe abaixo do joelho e quase lhe servia de manto. Ela então o prendeu de novo, célere e nervosamente. A certo momento, deteve-se e permaneceu imóvel, enquanto uma ou duas lágrimas caíam sobre o puído tapete vermelho.
Vestiu o velho casaco marron; pôs o velho chapéu marron. Desceu rapidamente a escada que levava à rua. Parou onde havia um letreiro anunciando: “Mme Sofronie, Artigos de Toda Espécie para Cabelos”. Della subiu a correr um lance de escada e se deteve no alto, arquejante para recompor-se.
- Quer comprar meu cabelo? – perguntou Della.
- Eu compro cabelo – disse Madame. – Tire o chapéu e vamos dar uma olhada no seu.
Despenhou-se, ondulante, a cascata de águas castanhas.
- Vinte dólares – ofereceu Madame, erguendo a massa com mão prática.
- Dê-me o dinheiro depressa – pediu Della.
Oh, as duas horas seguintes voaram. [...] Della se pôs a vasculhar as lojas à procura de um presente para Jim.
Encontrou-o por fim. Fora feito para ele e para ninguém mais. Nada havia que se lhe parecesse nas outras lojas, e ela as revirara de alto a baixo. Era uma corrente de platina, curta, simples e de modelo discreto. [...] Era digna até do relógio. Tão logo a viu, soube que tinha de ser de Jim. Era como ele. Serenidade e valor – a descrição se aplicava a ambos. Vinte e um dólares cobraram-lhe por ela, e Della correu para casa com os oitenta e sete centavos. [...]
Às sete horas, o café estava preparado e uma frigideira quente no fogão esperava o momento de fritar as costeletas.
Jim nunca se atrasava. Della dobrou a corrente no côncavo da mão e sentou-se a um canto da mesa, perto da porta pela qual ele sempre entrava. Ouviu então seus passos no primeiro lance da escada e empalideceu por um instante.
- Oh, Deus, fazei-o por favor achar-me ainda bonita!
A porta se abriu, Jim entrou e a fechou. [...]
Jim avançou alguns passos. Seus olhos estavam fitos em Della e havia neles uma expressão que ela não conseguia ler e que a aterrorizava. [...]
- Jim, querido – gritou – não me olhe desse jeito! Mandei cortar o cabelo e o vendi porque não poderia passar o natal sem dar um presente a você. Ele crescerá de novo… não se aborreça, por favor. Meu cabelo cresce terrivelmente depressa.
Emergindo do seu transe, Jim pareceu despertar rapidamente. Abraçou a sua Della.
Jim tirou um pacote do bolso e atirou-o sobre a mesa.
- Não me interprete mal, Della – disse. – Não acho que haja alguma coisa, corte de cabelo, raspagem ou xampu, capaz de fazer-me gostar menos da minha mulherzinha. Mas se você abrir este pacote, poderá ver por que fiquei abalado no princípio.
Alvos dedos ligeiros desfizeram o atilho e o embrulho. Ouviu-se então um grito extático de alegria, e depois, ai!, uma súbita mudança feminina para as lágrimas e os gemidos, que exigiram o imediato emprego de todos os poderes de consolação do senhor do apartamento.
Pois sobre a mesa jaziam Os Pentes [...]. Belos pentes, de tartaruga legítima, orlados de pedraria – da cor exata para combinar com seu lindo cabelo. [...]
Jim ainda não vira o seu belo presente. Ela lho estendeu ansiosamente na palma da mão aberta. [...]
- Não é uma beleza, Jim? Vasculhei a cidade toda para achá-lo. Doravante, você terá de ver as horas uma centena de vezes por dia. Dê-me o seu relógio. Quero ver como fica nele.
Em lugar de obedecer, Jim deixou-se cair no sofá, pôs as mãos atrás da cabeça e sorriu:
- Della – disse - vamos por os nossos presentes de Natal de lado e deixá-los por algum tempo. São lindos demais para poderem ser usados agora. Vendi o relógio para comprar os seus pentes. Que tal se você fritasse as costeletas agora?
Encontre no texto e explique com suas palavras os elementos do enredo de O presente dos magos, seguindo o esquema a seguir.
1- CONFLITO INICIAL
2- TENTATIVA DE SOLUÇÃO DO CONFLITO
3- CONFLITO 2
4- CLÍMAX
5- SITUAÇÃO FINAL

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